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Boletim de Dermatologia VeteriNária - Nº 2 Outubro 2017
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No boletim anterior ressaltámos a importância da anamnese, o exame clínico geral e um exame dermatológico completo para estabelecer possíveis causas primárias de otites. Neste segundo boletim vamos centrar-nos no exame otológico e nas provas complementares. |
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Como já mencionado no boletim anterior, Otites (Parte I), antes de introduzir o otoscópio no canal auditivo convém fazer-se uma exploração mais detalhada da zona, examinando a fundo o pavilhão auricular procurando indícios de outras patologias cutâneas e palpando externamente o canal para ver se há sinais de dor (indicativo de uma possível otite média) ou endurecimento do canal (possível calcificação da cartilagem).
Uma vez introduzido o otoscópio, examinaremos o canal vertical e horizontal para ver se há sinais de ulceração ou hiperplasia, observar o tipo de exsudado e tentaremos visualizar a membrana timpânica se for possível.
Se houver hiperplasia severa que nos impede de examinar o canal, devemos medicar o paciente com corticoide sistémico durante uns dias para determinar se a hiperplasia é reversível, e examinar o canal quando estiver aberto novamente. Em alguns casos, sobretudo se houver ulceração, pode ser necessária uma anestesia geral, já que a manipulação pode ser dolorosa.
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Fatores importantes a considerar no exame otológico:
- Palpação externa do canal auditivo
- Presença ou não de lesões cutâneas no pavilhão
- Exame otoscópico do canal vertical e horizontal
- Tipo de exsudado
- Integridade da membrana timpânica
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O tipo de exsudado pode ser orientativo na origem da infeção:
- Ceruminoso, seco
(Figura 1): pode ser característico das infestações por
Otodectes.
- Ceruminoso untuoso amarelado
(Figura 2): podem predominar as bactérias, sendo que em alguns casos observa-se também
Malassezia spp.
- Ceruminoso untuoso escuro
(Figura 3): pode predominar a infeção por
Malassezia spp.
- Purulento amarelado
(Figura 4): é característico das infeções por
Pseudomonas spp.
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No entanto, não devemos estabelecer um tratamento baseado apenas no aspeto do exsudado. Devemos sempre realizar uma citologia para confirmar as nossas suspeitas.
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Além disso, em muitos casos vamos identificar infeções mistas por bactérias e
Malassezia. |
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Figura 1:
Exsudado ceruminoso seco |
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Figura 2:
Exsudado ceruminosos untuoso amarelado |
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Figura 3:
Exsudado ceruminoso untuoso escuro |
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Figura 4:
Exsudado purulento amarelado |
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Citologia:
Devemos realizar a citologia antes de começar o tratamento, e durante o seguimento, para confirmar que o nosso tratamento está a ser efetivo e vigiar que não se produza um efeito de rebote (ocasionalmente depois de se tratar de forma prolongada uma infeção bacteriana pode produzir-se uma sobreinfeção de Malassezia, ao diminuir os níveis de bactérias).
Para visualizar ácaros convém misturar o exsudado com parafina liquida. Para visualizar populações de bactérias e Malassezia é suficiente com coloração Diff-Quick.
Os microorganismos que podemos identificar na citologia são:
- Cocos
(Figura 5): na maioria dos casos trata-se de
Staphylococcus spp., ocasionalmente Streptococcus spp.
- Bacilos
(Figura 6): na maioria dos casos trata-se de
Pseudomonas spp, ocasionalmente
Proteus spp.
- Leveduras
(Figura 7):
MAlassezia spp
- Ácaros
(Figura 8): Otodectes cynotis, ocasionalmente
Demodex spp.
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Cultura e antibiograma:
Na maioria dos casos de otite externa não vamos precisar de fazer uma cultura e antibiograma, uma vez que, com base na citologia, podemos escolher a preparação tópica mais adequada.
No entanto, a cultura e antibiograma são necessários em casos de:
- Presença de exsudado purulento e/ou úlceras (indicativo de Pseudomonas)
- Otite recorrente/crónica
- Otite média: a maioria dos casos de otite externa que se cronificam desenvolvem uma otite média. Essa é a razão pela qual não respondem aos tratamentos convencionais.
Com base nos resultados, elegemos o antibiótico a usar, preferencialmente em preparação tópica, já que penetra melhor no tecido a uma concentração adequada. Se não há alternativa tópica, estabelecemos tratamento sistémico, no entanto, os antibióticos sistémicos nem sempre alcançam bem o epitélio, sobretudo na presença de exsudado purulento.
TAC/Ressonância Magnética:
Pode ser usado em casos de suspeita de colesteatoma, pólipos ou neoplasias e para determinar se há calcificação do canal.
Biopsia:
As amostras para biopsia podem ter origem em diferentes localizações:
- As biopsias do pavilhão estão indicadas antes da presença de lesões cutâneas (úlceras, nódulos) que indiquem uma possível patologia primária (leishmaniose, doenças autoimunes, neoplasias do pavilhão,etc)
- As biópsias do canal estão indicadas quando há presença de pólipos ou existe suspeita de neoplasia.
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No próximo boletim centrar-nos-emos no tratamento da otite crónica. |
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Maria Paz Gracia Lda. Vet. Cert. Veterinary Dermatology.
Licenciada pela Faculdade de veterinária de córdoba em 1993. Desenvolveu a sua atividade profissional no Reino Unido desde 1994 a 2005 onde obteve o Certificado Veterinary Dermatology, outorgado pelo Royal College of Veterinary Surgeons no ano de 1999. Em 2006 regressa a Espanha onde funda o Centro de referência Bahía de Málaga, sendo responsável pela área da Dermatologia.
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T: (+34) 918 440 273, F: (+34) 918 410 392
Fuente del Toro 40. 28710 El Molar. Madrid. Spain |
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